quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Feliz Natal. : )

 Hoje eu estacionei meu carro e fui resolver uma tarefa. Entre fechar o carro e andar até a tarefa, vi uma cena estarrecedora. Dessas que contam por aí como se fosse normal mas que você não acredita e só entende como é quando acontece com você.  Eu me certifiquei que o carro estava trancado e segui meu caminho sempre atento a tudo que acontece ao meu redor, como todo bom carioca. E aí eu vi um senhor de cócoras, de frente para um poste com um saco de mercado usado como lixo por algum morador da região. 


Esse senhor estava pegando um osso de galinha e alguns caroços de arroz e feijão com suas mãos sujas e se alimentando. Claro que a cena chama atenção e a sensação que tive foi de pena. Não, de revolta. Talvez de repulsa? De remorso? Culpa? De gratidão por não ser eu ali? Não sei. Sei que aquela cena me fez sentir diversas sensações e me desencadeou algumas (várias) reflexões. E confesso que me abalou talvez até agora. 


Nisso, como eu estava focado em cumprir minha tarefa, continuei andando, tentando ignorar a realidade ao redor e dando prioridade às minhas próprias necessidades. E ouvi um senhor que estava passando falando, talvez querendo uma afirmação minha ou uma réplica ou sei lá.. Eu apenas ouvi e fingi que não tava ouvindo. Ele disse o seguinte: "Pra você ver a situação desse país. Meu Deus, cuida dessas pessoas necessitadas." (Ou algo do tipo.) Fingi que não ouvi, porque não sou muito chegado a conversas desnecessárias com gente que não conheço e estou em tratamento pra parar de discutir com os outros a toa. 


Segui meu caminho na missão. Mas ainda incomodado com aquela situação que vi. Como pode uma pessoa chegar ao ponto de procurar comida no lixo? Comer restos de alguém que também não deve estar em uma situação tão boa assim. Esse tipo de coisa eu só tinha visto em música. O Bolsonaro disse que ninguém passa fome no Brasil.. Ainda mais na capital do Rio de Janeiro.. Aí pensei em usar meu troco e dar R$10 pro senhor e sugerir que ele comprasse uma quentinha. Mas será que dez pratas dá? Será que ele sabe onde comprar? Será que ele só está colhendo o que plantou? Qual seria o real motivo dele estar nessa situação? Eu sei que eu só tinha 20 reais inteiro pra dar pra ele e a nota inteira ia me fazer falta. Pensei em trocar o dinheiro. Mas onde? 


E aí que o óbvio te atinge como um soco na cara. Eu posso só me sentir mal com aquilo, posso reclamar da situação com outra pessoa culpando alguém, posso dar dinheiro pra mendigo nojento ou posso tentar fazer algo com certa eficácia paleativa. Decidi então procurar uma padaria e comprar um lanche para ele. Mesmo sabendo que ele pode ser um maluco que iria tacar o lanche na minha cara, trocar o lanche por drogas ou simplesmente jogar fora. 


Não achei padaria. Mas achei um sacolão. Decidi comprar algumas bananas. Porque banana faz bem, né.. Todo mundo come banana. Tem coisa na banana que cura até depressão. Devo ter comprado umas 5 bananas. E ainda ajudei um pai de família a se sustentar ao comprar do negócio de quintal dele. Paguei R$3,50. Guarde esse número: três e cinquenta. 


Só não falo que segui com as bananas na mão porque eu fiz quinta série também. Segui com as bananas no saco. Não, pera.. Calma.. Isso é um texto sério...


Enfim.. O senhor ainda estava lá quando voltei. Exatamente na mesma situação. Minha impressão era que ele tentava se levantar mas não tinha força. Cheguei perto e dei bom dia. 


- Bom dia senhor, o senhor aceitaria algumas bananas? 

Ele me olhou por trás dos óculos de armações grossas e disse:

- Opa.. Uma moça disse que ia voltar aqui e me dar alguma coisa já.. Porque ela me viu comendo do lixo. 

- Sim, eu também vi. O senhor aceita banana? Disse eu colocando o saco de bananas aberto na frente dele. 

- Eu vou pegar uma só. 

- Não. É tudo pra você. 

- Ué, mas você não vai querer as outras? Vai me dar tudo?

- Claro. (quando disse isso, eu estava pensando no fato de nunca ter passado fome e na certeza de que eu iria ter todas as minhas refeições por pelo menos duas semanas)


E aí eu saí e disse pra ele: Guarda um pouco pra depois. Fiz dois sinais de positivo pra ele e entrei no carro. Não vi ele comendo e nem sei se ele me entendeu. E tinha um jovem olhando pra todo esse ato, sem dizer uma palavra. 


E fui embora. Pensando em como que pode uma pessoa chegar ao nível de comer resto do lixo ao invés de pedir ajuda. Talvez ele tenha os motivos dele pra não pedir ajuda. Como pode uma pessoa carregando uma sacola ver aquela cena e simplesmente colocar a culpa no governo e só pedir que Deus resolva. Talvez ele tenha os motivos dele. Eu sei que toda essa situação me fez lembrar que R$ 3,50 pra mim não é nada, mas que para aquele senhor que estava sujo, de cócoras comendo lixo era a chance de se alimentar. Três e cinquenta. TRÊS E CINQUENTA. R$ 3,50 faz essa diferença na vida de um ser humano. 


E eu então cheguei à conclusão que o que é importante não tem preço. Tem valor.

domingo, 30 de janeiro de 2022

Paciência

 Eu não consigo me conter.

Todos podem perceber.

Tento colocar em vão

o meu coração

no papel.

Porém, não acho que poderei dizer

ou que quem importa irá entender 

toda a minha emoção

ou a minha razão.

Ouvindo. 

É difícil viver sozinho

sem saber exatamente

como agir, pra onde fugir

ou qual é o caminho. 

Então assim eu sigo.

Carregado de emoções

que eu não consigo trabalhar.

Me pergunto se iria adiantar

com alguém conversar. 

Então mais uma madrugada

eu fujo para meu unico

refúgio. 

O papel. 

Nunca conseguindo

expressar tudo que estou sentindo. 

E cada página mais me diminuindo. 

Será esse meu destino?

Até a morte?

Não quero mais sofrer. 

Quero a vida entender.

Perceber, o que eu tenho

que ser.

Saber, no que posso confiar.

Não me entregar a mais 

nada que vá me machucar.

Mas como prever,

se não consigo confiar?

Uma brincadeira.

Me faz pensar, lembrar.

Não consigo acreditar.

É uma tortura continuar. 

Sofro, choro, sangro, bebo. 

Vou fumar mais um cigarro

e queria que com ele viesse

um choro. 

Daqueles que lavam a alma. 

Mas sei que não vai vir. 

Vou ter que segurar mais. 

Essa angústia, essa revolta.

Espero que um dia

eu encontre a paz. 

Não aguento mais. 

O papel não me responde,

a verdade se esconde

e eu vou parar por aqui

e tentar dormir. 

Sei que não vou conseguir.

Mas preciso uma vida seguir. 

Quando penso que vou sorrir,

sofro, choro, dói.

Tento deixar para trás.

Eu não aguento mais. 

Queria tanto confiar.

Sem motivos para desacreditar.

Mas é tão difícil

acreditar.

Deixo me levar,

sabendo que vou me machucar. 

Sinais vagos, mas claros. 

Foda ser burro. 

Enxergar, mas sem poder provar.

Queria tanto continuar.

Preciso sair desse ciclo

mas já não sei se vou sair vivo. 

Me recuso a aceitar minha morte. 

Mas vou morrer mesmo.

Desculpa a quem acreditou

em mim.

Coloco aqui meu fim. 


André Coribe em 18/10/2021

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Conflito

 A carne

O momento 

Aqueles minutos


Outros intuitos

ao vento

dorme


A intenção

diferente

faz mal


Cobrindo com cal

a gente

em vão


A mente

problema

a se resolver


foi se envolver

dilema

seguir em frente


consegue voltar

deixar de lado

sem resposta


uma aposta

virando um fardo

o destino mostra


Pausa para o cigarro

Telefone sem resposta

a vida te mostra


qual caminho seguir

qual vai te ferir

por aqui

que (qui)

vai sangrar


derramar

palavras 

sentimentos

momentos


ventos

levando pra longe

onde

pros esquecimentos

ao mar


queira me perdoar

mais uma vez

de novo fez

algo que nunca vai deixar

todo mês


onde está a esperança

a confiança

a lembrança

doi


me corroi

o medo

vendo mais um brinquedo

enfim

dispensado


todo atribulado

mal trabalhado

acanhado

recusando o recado


por hoje acabou

sou

fui

serei


nunca o rei

que sempre quis

ou eu fiz 

o que me queixei


nada disso faz sentido

talvez um amigo

tenha uma opinião

digo não

a qualquer anfitrião


tento

sempre sair

do relento

somente para cair


vamos melhorar as coisas

e criar uma nova escrita

menos aflita

pena que não vou conseguir

esse destino seguir


jogar tudo fora

e começar de novo

meu povo

traidor


dor

flor

nasce

renasce

reberbarasce


amanhã terás um

somente para terminar em fim

a dor que existe em mim

se tornando orgulho

em um furo

de toda essa estória


A glória, hei de vir

algum dia

A noite fria

me condena


a escrever mais uma vez

meu coração 

em forma de poema


pois parei

por hoje

renego minha dor

como tema


e como não posso mais escrever

irei esquecer e deixar morrer

padecer essa dor 

e deixar brotar depois como uma flor

que irá extinguir toda minha dor

e me trazer meu novo amor.