domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Fuga

Então alí estava ela. Parada em frente ao seu marido sentado em uma cadeira de rodas e seu filho. Vendo de cima, os três formavam um triângulo.


Seu filho já tinha idade para estar com vida feita e casado com uma boa esposa que fosse junto com ele para a igreja. Mas tudo que ele tinha era um carro velho e algumas dívidas.


Voltando ao triângulo:


Ela resolveu andar, estava cansada de ficar alí, em pé, suportando o peso do mundo. 


Segurou a cadeira de rodas e começou a empurra-la, andando sem saber para onde ir.
Seu filho estava bêbado e não conseguia acompanha-la em linha reta. Estava sempre caindo para os lados e chegou a cair no chão algumas vezes. 


O filho debilitado aliado ao peso da cadeira de rodas, fazia a caminhada lenta e pesada.


Alguns minutos de caminhada depois ela enxergou um grande campo florido, lindo, com passarinhos cantarolando canções de sua infância, grandes árvores que davam grandes sombras frescas, um riacho preguiçoso, tudo mais que tem em um lugar que podemos chamar de paraíso e uma luz branca que transmitia boas vibrações para o campo.


Ao ver esse lugar, ela pôde sentir uma sensação de alívio e cresceu nela a vontade de sentir a paz desse lugar. Mas se ela continuasse no mesmo ritmo, nunca chegaria lá.


Tudo ao redor dela e do campo tinha uma cor amarelada.


Então ela começou a correr sozinha em direção ao campo deixando para trás seu marido, que ficou parado no mesmo lugar que ela deixou e o filho que continuou andando tão tortamente que logo estava em outra direção e caiu mais uma vez no chão.


Continuou correndo, correndo, correndo...


Correndo, correndo, correndo...
Correndo, correndo, correndo...
Correndo, correndo, correndo...
Correndo, correndo, correndo...
Correndo, correndo, correndo...


E só percebeu que o campo nunca chegava quando começou a escurecer.
Quando a lua já estava no céu ela viu que quanto mais rápido ela corria, o campo ficava cada vez mais longe.


Decidiu parar para descansar e não fazia idéia de onde estava. Sentou no chão e não podia ver da onde tinha vindo. Era tudo escuridão. 


Tentou ver o campo e ele não estava mais lá. Ele foi engolido por aquela noite tão escura.


Junto com a noite que ficava cada vez mais escura, estava chegando agora também um frio que ela nunca havia sentido. Um frio que não deixava ela se mover. 


Ela caiu no chão e ficou deitada, imóvel.


Quando sentiu um aperto no peito, acordou.


No momento em que ela sentou na cama, assustada, ela percebeu que embora ela quisesse liberdade e paz para poder viver sua vida, aquela era a sua vida. Que não poderia viver sem a força do amor pela sua família e que sem as batalhas de cada dia ela ficaria fraca, infeliz e sem vida.    



sábado, 13 de fevereiro de 2010

O preço

Tentando encher com gás,
A falta que o oxigênio faz.
Tudo que resta está na mesa.
O que pesa é uma garrafa vazia.

Apenas uma preocupação:
A visão de uma idade,
De um adulto sem ilusão,
Benção que vem pela metade.

Pagando então depois,
Os segredos entre nós dois.
Ou quem sabe pagar agora,
Talvez já seja a hora,
De parar.

Esquecer, tentar em vão,
Antes que o coração pare
de vez e então só reste
o preço a se pagar:
Os sóis que nascem sem acordar.

Quero voltar, mas não posso mais.
É preciso lutar contra a falta que o oxigênio faz.
Estando preso, já se sabe o preço:
Ileso, nunca mais.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Complexo

Segue o motivo da publicação anterior.



Ando tão sem paciência.
Talvez seja o calor, secando toda a minha calma.
Tudo que estava na palma, da minha mão, transformando em vapor.

Largo todos os planos.
E tento voltar aos primeiros anos, ouvindo pixies.
É uma pena, como café derramado no pires, não volta mais.

Mas mesmo estando na xícara o café.
A estatua da felicidade nunca antes e nem depois ficara de pé.
Sempre será a mesma ladainha, estando com seus amigos, mãe, namorada ou vizinha.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Carta aos nostálgicos.

Quando sentimos falta de alguma época que passamos, só lembramos dos momentos bons e esquecemos que nessa época tão desejada, também tivemos momentos ruins. Justo como a época que estamos vivendo nesse exato momento. Nenhum momento de nossas vidas foi perfeito, então é bobagem querer voltar a ser algo que fomos a tempos atrás.

(É normal querermos voltar a alguma época que marcou nossa vida. Mas isso é impossível. As pessoas vão mudando, os ambientes vão mudando, os interesses, as conveniências. Nada vem de graça. É preciso abrir mão de algumas coisas para ter outras.)

Tudo na vida tem um lado bom e um lado ruim. Tudo é equilibrado, neutro. O que te faz tão bem, também pode te matar, dependendo da intensidade. Precisamos saber dosar tudo para não cometer excessos. Precisamos saber a hora de parar e mudar.

O sol que queima sua pele, é o mesmo que te permite viver.

O sol permite a fotossíntese, sem o sol não haveria vida na Terra. Porém se você pegar sol de meio dia todos os dias, provavelmente você terá um câncer de pele. Agora se você pegar sol de meio dia 5 vezes ao ano, não haverá grandes problemas.