domingo, 8 de novembro de 2009

Uma balzaquiana

Já podia-se ver em seu rosto e em seu corpo, algumas marcas de seus equilibrados 34 anos. Longos cabelos loiros e ondulados já davam pista de sua descendência européia. Tinha ao lado dos grandes olhos verdes, algumas linhas que ficavam uma em cima da outra e em embaixo deles, profundidade. Um pouco abaixo, algumas sardas escuras acusavam o descaso com o protetor solar ao deitar-se ao sol da praia na melhor época de sua vida. Descendo pelo pescoço, podia-se ver seus ombros magros e delicados e seus seios que já não tinham mais a mesma consistência de seus 19 anos, mas que ainda suportavam o peso balanceado do seu - segundo seus antigos namorados- tamanho ideal. Quando respirava fundo em algum casual suspiro, suas costelas ficavam à mostra. Em sua barriga não havia qualquer sinal do tempo, graças ao seu metabolismo acelerado. Também era notável o formato de seu quadril, que junto com sua cintura e seu andar, deixavam o ar mais tenso por onde passava. Completando toda a obra de seu corpo maduro, belas pernas nas quais nada podia ser visto, apenas algumas veias azuis na parte de trás de seus joelhos, e seus pés pequenos e macios.

Fazia seu papel perante ao capitalismo de sua sociedade. Trabalhava de segunda a sexta 8 horas por dia com sua responsável competência. Sinal dessa competência era a aquisição de seus bens materiais. Seu lar era um confortável apartamento em um condomínio de luxo em um bairro nobre do Rio de Janeiro.

Não fazia seu papel perante a família. Não tinha achado até o momento seu par eterno e morava sozinha.
Ao fim do expediente no qual ela desempenhava um papel que a completava, ligava para empresa de táxi e enquanto esperava o motorista, pensava em quem ela ia sentir falta naquela noite.

Ao chegar no condomínio no qual morava, puxava assunto com o porteiro, sempre educado, e jogava conversa fora durante mais ou menos uma hora. Era esse o tempo de começar a achar que poderia estar sendo um incômodo para o nobre cavalheiro que a tratava com tanta atenção. Despedia-se e ia andando vagarosamente em direção ao seu apartamento, como se algo novo pudesse acontecer se ela simplesmente desse oportunidade a tão pequenos minutos.


Entrava em seu apartamento escuro e sentia orgulho de sua empregada que sempre deixava tudo exatamente do jeito que a patroa gostava, inclusive seu lanche noturno, antes de ir embora. Depois de comer, tirava sua roupa social, e ainda com sua calcinha e sutien de renda preta ligava o aparelho de som para ouvir as músicas que tanto a relaxavam e acendia algumas velas aromáticas pelo seu enorme banheiro social enquanto sua banheira enchia. No armário do banheiro, uma inusitada garrafa de Vodka e seu copo preferido usado diariamente durante seu ritual.. Não molhava seus cabelos durante o banho noturno e prendia principalmente a parte de trás em um coque feito com não muito cuidado, deixando que um pouco da parte da frente caísse sobre 1/4 do lado direito de seu rosto. Ao lado da banheira, posicionava estrategicamente seu celular, uma toalha limpa e seu copo. A esse momento, a banheira já estava cheia. Ela tirava sua lingerie, primeiro o sutien e depois sua calcinha, e depois entrava na banheira com água morna.
Levantando uma perna vagarosamente, passava um pouco de espuma por sua perna e logo depois uma macia lâmina recém tirada da embalagem. Repetia o processo também em sua perna direita, todos os dias. Entre uma perna e outra, dois goles ou três. Quando terminava sua depilação diária, tirava de um maço que nunca saia do lado da banheira um cigarro e tentava saciar com fogo seu prazer momentâneo enquanto terminava seu copo.

Terminada a fase 2 de sua rotina noturna, secava-se e ia ainda nua em direção a seu quarto. Onde havia um grande espelho onde era possível ver seu corpo inteiro. Ficava admirando seu corpo por alguns minutos enquanto tentava descobrir a cada dia em qual lugar de seu corpo, um toque podia ser sentido com mais intensidade. Pegava seu celular e procurava não sabe-se o quê, mexia nas fotos, em sua agenda telefônica, mensagens apagadas.

Quando o sono de quem acorda cedo bate nela, ela ainda nua, deita em sua cama de casal e cobre-se com seu calor de mulher. Deixando o sono a carregar embora para mais um modo de viver poucos minutos de prazer dentro de sua rotina.